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15 de julho de 2021

Conheça os fundos multimercados e long short que tiveram maior retorno no 1º semestre de 2021

Ranking elaborado pelo Valor Investe mostra ganho médio de 23% entre os fundos multimercados de melhor desempenho no período; entre os long & short, que ficam comprados e vendidos, ganho médio dos 15 melhores do semestre ficou em 5%.

Ainda é cedo para apontar quais os melhores fundos de investimentos de 2021, já que estamos apenas na metade do ano. Mas com meio caminho andado, já dá para ver quais produtos estão se diferenciando dos demais em termos de retorno. O Valor Investe traz hoje os rankings com os 15 fundos de investimentos mais rentáveis do primeiro semestre nas categorias multimercados, que podem investir em diversas classes de ativos (ações, câmbio, juros futuros, commodities etc.) e long & short, cuja principal característica é terem parte da carteira comprada (apostando na alta do papel) e outra parte vendida (apostando na queda).

Ao todo, os 15 multimercados em destaque este ano somam R$ 4,9 bilhões de patrimônio, dinheiro de 23.288 cotistas. Os 15 long short administram R$ 5,5 bilhões de 40.750 investidores, conforme ranking do Valor Investe.

Os rankings foram elaborados a partir de dados coletados na plataforma Morningstar em 5 de julho de 2021 e elaborados pelo economista e blogueiro do Valor Investe, Marcelo d’Agosto. O levantamento teve como base fundos que estão disponíveis para investimento (mesmo que temporariamente fechados), seja diretamente ou por meio de bancos e plataformas. Ficam de fora, portanto, fundos exclusivos.

Em média, os 15 fundos multimercados mais rentáveis tiveram um retorno de 23% em seis mesescontra apenas 1,28% do CDI no primeiro semestre e bem acima até do que o Ibovespa, que subiu 6,54%.

 

Fundos Multimercados com melhor rentabilidade no 1º semestre de 2021

Multimercado Retorno no 1º semestre de 2021 Retorno nos últimos 12 meses Desvio Padrão (métrica de volatilidade) Patrimônio líquido Número de cotistas
ESH Theta FIM 91,2 113,7 66,2 53,10 576
Logos Total Return FIC FIM 27,8 75,5 63,6 271 1.926
Vista Multiestratégia FIC FIM 25,68 46,2 23,0 812 1.302
Vinci Total Return FIC FIM 24,9 48,8 12,1 157 505
Sparta Cíclico FIM 24,8 32,4 15,0 49 1.329
V8 Veyron Smart Beta FIM 22,1 32,8 21,9 30 971
Solana Absolutto FIC FIM 20,0 47,2 22,1 51 924
Forpus Multiestratégia FIM LP(*) 15,8 ND ND 131 5.024
Iporanga Macro FIC FIM 14,4 31,4 25,9 32 17
Polo Macro FIM 14,0 24,7 21,2 116 1.800
Vinci Platina Trading FIM 13,8 33,3 26,6 31 251
SPX Raptor Feeder FIC FIM C Priv IE 13,7 23,9 12,7 2.205 189
Grou Absoluto Feeder FIC FIM 11,2 37,5 21,7 58 417
Capstone Macro FIC FIM 9,8 19,65 5,1 611 582
Santa Fé Aquarius FIM 9,5 22,12 8,8 88 3.608

(*) O Forpus Multiestratégia FIM LP iniciou em 3 de setembro de 2020.

primeiro colocado do semestre na categoria multimercados é o pouco conhecido ESH Theta FIM, fundo da gestora ativista Esh. O desempenho destoa até mesmo do apresentado pelos produtos que lhe fazem companhia no topo do ranking, ao ter subido 91% no semestre, graças, em grande parte, à valorização astronômica de 67% apenas em abril deste ano. Até então, o desempenho do fundo estava indo bem, mas nada excepcional. Seu foco (e fonte de dinheiro) é ganhar dinheiro com ativismo corporativo e identificação de ‘special situations’, como a que viu com a empresa de fidelidade Smiles.

A explicação para o ganho de abril, por exemplo, está na posição comprada em Smiles (esperando alta) e vendida em Gol (apostando na valorização). Durante meses a gestora trabalhou ativamente para convencer a companhia aérea a melhorar a proposta de incorporação da empresa de fidelidade (Smiles), o que finalmente conseguiu no fim de março, quando foi anunciada a aprovação da incorporação da Smiles pela Gol. Além disso, em 1º de abril, encerrando meses de negociação, conseguiu que a Dimed, controladora das farmácias Panvel, garantisse aos minoritários relação de troca de 1 para 1 na conversão de ações preferenciais em ordinárias e migração ao Novo Mercado.

segundo lugar entre os multimercados está com o Logos Total Return FIC FIM, da gestora Logos Capital, um destaque da indústria de fundos de 2019, mas que sofreu um grande revés no início da pandemia ao subestimar o tamanho dos estragos que o coronavírus causaria na economia e empresas brasileiras.

Do lado dos long & short, os 15 mais rentáveis tiveram um retorno médio de 5%. Ainda assim, quatro vezes o CDI do período (1,28%). Na liderança, com ganho de 18,9% e uma volatilidade maior que a dos companheiros de ranking, aparece o fundo NCH Maracanã Long Short FIM, da gestora NCH Capital, que mistura análise sistemática de tendências por meio de algoritmos quantitativos com escolhas ativas de papéis que dentro das tendências podem ir melhor. Na segunda posição entrou o Polo Norte I Long Short, da gestora carioca Polo, com volatilidade bem menor, e retorno de 9,5% no semestre.

 

Fundos Long Short com melhor rentabilidade no 1º semestre de 2021

Nome do fundo Retorno no 1º semestre de 2021 Retorno nos últimos 12 meses Desvio Padrão (métrica de volatilidade) Patrimônio líquido Número de cotistas
NCH Maracanã Long Short FIM 18,9 0,0 22,8 23 107
Polo Norte I Long Short FIC FIM 9,5 7,8 7,4 220 4.443
Kadima Long Short Plus FIA 8,8 8,2 5,5 76 381
Ibiuna L&S STLS FIC FIM 8,3 6,3 5,3 564 1.051
Argo Long And Short FIC FIM 6,2 8,7 3,8 24 113
Solana Long And Short FIC FIM 5,8 6,3 5,0 514 2.837
Quantitas Maldivas Long Short FIM 5,8 4,9 5,5 4 35
Perfin Equity Hedge FIC FIM 4,1 2,5 9,1 87 3.536
Moat Capital Equity Hedge FIC FIM 3,9 5,1 5,3 1.093 14.038
Safra Kepler Equity Hedge FIM 3,7 7,2 1,7 828 7.815
Navi Long Short FIC FIM 3,4 4,5 4,7 522 2.772
Truxt Long Short Advisory FIC FIM 3,2 7,4 6,3 266 3.285
Claritas Long Short FIC FIM 3,2 2,9 2,7 356 865
Votorantim BV Equity Hedge FIM 2,9 4,5 2,0 12 46
BTG Absoluto LS FIC FIA 1,6 8,3 3,7 992 2.656

Vale lembrar que o fato de um fundo figurar entre aqueles de maior rentabilidade de um período de seis meses não significa que o desempenho vai se repetir no futuro, e nem que os gestores da lista são os melhores do mercado. Às vezes, a boa rentabilidade de um período curto depende também de sorte, ou de tomada de risco acima da média — e também por isso trazemos coluna com o desvio padrão da variação das cotas em 12 meses, para que os investidores possam comparar o retorno com alguma medida de risco, mesmo que imperfeita.

De qualquer forma, sempre interessa para os agentes de mercado saber o que garantiu o bom retorno de um gestor em determinado período, e portanto trazemos abaixo o relato da estratégia de alguns dos fundos do destaque do semestre, que se somam ao caso da Esh citado acima.

 

Logos Capital

Depois de ter colocar seu principal fundo no topo do ranking de retornos em 2019, a Logos Capital deu uma bela escorregada no início de 2020, quando veio a pandemia e sua equipe de análise subestimou o tamanho do problema que se formava. “Até o fim de janeiro, o mundo não sabia a intensidade do problema. Começamos fevereiro com preocupação, mas até o Carnaval achávamos que era algo pontual, que seria controlado. Foi após o carnaval que começamos a perceber o tamanho da intensidade, apesar de acreditar que a retomada seria rápida, olhando horizonte de 12 meses a 24 meses”, explica ao Valor Investe Ricardo Vieira, sócio da Logos.

Total Return ainda tinha um agravante: estava alavancado, apostando pesado no então estimado crescimento econômico do Brasil. Como sua volatilidade era maior que a do Ibovespa (apesar de ser um fundo multimercado, a maior parte do patrimônio está em ações), o fundo também caiu bem mais: em janeiro de 2020 perdeu 9%, em fevereiro a cota se desvalorizou 25% e em março o prejuízo somou 45%. No fim do ano, entre idas e vindas fechou em baixa de 26% contra alta de 3% do Ibovespa e de 2,8% do CDI, seu índice de referência. Do ponto mais baixo de sua cota, em 3 de abril de 2020, até agora, porém, o fundo já subiu mais de 200% contra cerca de 80% da bolsa.

“Olhando o ano passado, os principais nomes que tivemos e nos ajudou foi posição comprada em OiSequoia Logística e Transporte, que ancorou a retomada das ofertas de ações (IPOs) no ano passado, Lojas Americanas ON [ordinária, com direito a voto em assembleia de acionistas] porque acreditávamos na estruturação, e commodities com KlabinMarfrig e Vale. Essas foram as grandes vencedoras”, explica. Do lado de posições vendidas, acertaram em Banco do Brasil e IRB Brasil.

A virada continuou em 2021 com apostas acertadas na valorização de IntelbrasJBSHeringPetroRioSLC AgrícolaSantos Brasil e Vale via Bradespar, a holding que detém ações da mineradora.

“Os preços de commodities estão muito altos e pode até haver um arrefecimento. Ainda assim, a geração de caixa esperada para empresas exportadores é muito relevante para os próximos 12 e 24 meses. C&C, Vale, Usiminas, Suzano e Klabin têm desvantagens limitadas para o potencial de alta que têm. Commodities ainda estão interessantes. Cerca de 25% a 30% do fundo está posicionado em nomes vinculados à exportação”, explica Vieira.

Além disso, a empresa continua com TIM em telecomunicações por ver um desconto de valor no preço negociado hoje na bolsa. Também voltou a comprar varejo de vestuário ao apostar na retomada da economia nos próximos 12 meses. Sua escolha dessa vez foram as ações da Renner. “Vai ser vencedora ao longo dos próximos trimestres”, diz o gestor. “As empresas que sobreviveram à pandemia saem fortalecidas. Não podemos mais olhar 2021, temos que já ver potencial de valorização em 2022”, completa.

Uma das apostas recentes é na empresa de educação Ânima. O olho está no potencial de valorização com a inauguração de mais vagas da faculdade de medicina e possível abertura de capital dessa área.

Diz ainda que vendeu parte da posição em Eletrobras porque a relação risco e retorno está bem menos atrativa agora. O sócio não detalha o que tem do lado vendido, mas comenta que bancos é um setor que já está no preço ajustado e, por isso, evita hoje.

Como 90% do resultado do fundo vem de ações, a casa está reforçando o time, com a contratação de duas pessoas, um trader e um analista de ações. Ao todo, agora está com 15 pessoas.

NHC Capital

O perfil do long short NCH Maracanã Long Short FIM é bem diferente do Logos Total Return, mas ambos são multimercados que têm foco em ganhar dinheiro com ações e surfaram bem a onda de commodities neste ano.

O NCH, gerido pelo sócio James Gulbrandsen, americano que vive no Brasil há muitos anos, tem foco em análise fundamentalista, ou seja, investir em empresas boas e com potencial de valorização, mas contar com o uso de algoritmos para identificar tendências.

“Em geral, o que deu muito certo para nós foi a alocação em commodities porque nossos sistemas quantitativos alertaram no início do ano uma possível recuperação global muito forte dos fundamentos, e do que chamamos de ‘early cycle’. O primeiro impulso de recuperação quase sempre favorece companhias de commodities, siderúrgicas, de alimentos, agrícolas, industriais, que funcionaram muito bem nas carteiras”, explicou, sem citar papéis específicos que fizeram o fundo render quase 19% no semestre.

Segundo Gulbrandsen, os sistemas quantitativos analisam inúmeros dados para identificar tendências cíclicas do passado. Se para o primeiro semestre a dica era de recuperação, favorecendo os setores voltados ao mercado global citados acima, agora a aposta está na economia doméstica.

“O que estamos percebendo agora é que o Brasil está basicamente atrasado em seis meses na recuperação econômica comparada com outros países importantes, tais como EUA e Coreia do Sul, que já estão em recuperação plena, o que está favorecendo empresas voltadas para economia doméstica. O Brasil vai entrar nessa fase, que deve coincidir com o momento que boa parte da população adulta já terá sido vacinada, em agosto, e aumento da confiança das pessoas”, explica.

Ele explica que a estrutura operacional das empresas brasileiras que reagiu à crise e está mais enxuta e eficiente, o que deve criar uma expansão de margem “muito impressionante”. Varejistas de vestuário, por exemplo, são uma das apostas agora, assim como companhias de vendas de automóveis, logística de automóveis e alimentação. Para Gulbrandsen, o setor de alimentação só não foi melhor porque a inflação está acelerada, e que ele acredita deve se arrefecer no segundo semestre.

“Eu estou super otimista. Tenho grandes expectativas para 2021 para bolsa, enxergando muito espaço de ganho em small e mid caps [empresas pequenas e médias de capital aberto], que são as que mais participam da economia doméstica. Falando de Vale e Petrobras, estou menos interessado”, finaliza.

Fonte: Valor Investe (https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/multimercados/noticia/2021/07/08/conheca-os-fundos-multimercados-e-long-short-que-tiveram-maior-retorno-no-1o-semestre-de-2021.ghtml)