3 de abril de 2020
Em meio à forte volatilidade dos mercados, gestoras têm optado por posições que se mostrem mais resilientes em meio à crise.
SÃO PAULO – Em um ambiente bastante atípico para o mercado financeiro e que pegou os investidores de surpresa, dado o tamanho e a rapidez do impacto do coronavírus sobre as economias, gestores de fundos de investimento tiveram que se movimentar ainda mais para evitar maiores perdas em março.
Em cartas aos cotistas, os gestores da Bahia Asset e Ibiuna Investimentos abordaram o cenário de incerteza nos mercados e contaram como estão posicionados os portfólios. Enquanto na Bahia Asset a busca é por liquidez, de forma a aproveitar oportunidades na Bolsa via empresas com receitas mais resilientes, na Ibiuna, a preferência segue em juros, com a expectativa de ganhos gerados pelas políticas monetárias ao redor do mundo.
Nos fundos multimercado da Bahia Asset, a opção para março foi por reduzir as posições compradas em empresas cíclicas dos setores de petróleo e consumo discricionário. A posição short (aposta na queda) no setor de telecomunicações foi praticamente encerrada, enquanto posições compradas (com aposta na alta) no setor de farmácia foram ampliadas.
Além disso, a gestora trocou a parte direcional comprada em bolsa no Brasil para o mercado acionário americano. A expectativa é de que as empresas do S&P 500 consigam reagir primeiramente à retomada no pós-crise.
Em março, o Bahia AM FIC FIM recuou 5,02%, ante variação de 0,34% do CDI e queda da ordem de 30% do Ibovespa.
A Ibiuna, por sua vez, começou a migrar as carteiras para empresas que não devem apresentar problemas de dívida e fluxo de caixa no médio prazo.
No fundo long biased, a gestora aumentou as posições em Cesp (CESP6), Totvs (TOTS3), e Locamerica (LCAM3) por terem uma fração relevante de suas receitas com característica recorrente e potenciais atrativos. Também foram ampliadas as posições em Yduqs (YDUQ3) e Ultrapar (UGPA3).
Ao mesmo tempo, os gestores reduziram as posições em incorporadoras de média e alta renda, por serem muito impactadas pela taxa de desemprego e confiança, bem como em seguradoras de saúde e shopping centers. Em março, o fundo Ibiuna Long Biased FIC FIM teve queda de 32,21%.
Com relação à estratégia do multimercado Ibiuna Hedge FIC FIM, a gestora reduziu as posições mais arriscadas em renda variável direcional, assim como a exposição a moedas emergentes. Foram ampliados, contudo, os hedges (proteções) contra cenários extremos, via aumento da posição aplicada em títulos do Tesouro americano e na compra de dólar contra real.
A visão é de que ainda que haja oportunidades atrativas na renda variável, a elevada volatilidade dessa classe de ativos somada às incertezas, demandam prudência na alocação de risco. “Neste momento, preferimos observar de fora a correr o risco de ‘queimar a largada’ nesta que pode ser uma ótima oportunidade mais à frente”, escreve a gestora.
Juros e Selic
De acordo com a Ibiuna, a principal estratégia do multimercado e que contribuiu para os ganhos de 2% do fundo no último mês foi a alocação na curva de juros de países que devem se beneficiar de políticas monetárias, como Estados Unidos, México, Chile, Brasil e Inglaterra.
Em Brasil, por exemplo, o fundo possui posições aplicadas na parte curta e intermediária da curva de juros. A justificativa é que o ambiente é “extremamente benigno de inflação” e que há perspectivas de novos cortes da Selic.
Juros mais baixos também são esperados pela equipe da Garde, que vê o Banco Central cortando a Selic para 2,75% ao ano nos próximos meses, com espaço adicional para novas baixas.
“Dada a rápida deterioração do cenário de atividade e a excepcionalidade da crise atual, não devemos descartar a possibilidade de realização de uma reunião extraordinária para cortes de juros”, escreveu a gestora em relatório intitulado “O mês em que a Terra parou”.
Com relação à inflação, a casa estima que o IPCA tenha alta de apenas 1,5% neste ano, mesmo com o câmbio acima de R$ 5,00. Isso aconteceria, segundo a Garde, devido à forte abertura do hiato do PIB, que deve encerrar o ano com queda de 3%, e ao choque desinflacionário dos preços de petróleo.
“Acreditamos que o ritmo de avanço da epidemia nos EUA, as mensagens dos líderes políticos a respeito da duração das medidas de contenção e a continuidade das medidas econômicas em resposta ao choque serão cruciais para ditar o ritmo dos mercados nas próximas semanas”, escrevem os gestores.
Em março, o multimercado D’Artagnan recuou 3,08%, enquanto o fundo long biased da casa teve queda de 21,55%.