17 de junho de 2020
O dólar comercial chegou hoje à sexta alta consecutiva, atingindo a marca de R$ 5,26, num movimento que mostra uma certa cautela dos investidores com o mercado local de câmbio, a despeito da percepção mais favorável a ativos de risco como ações. Analistas comentam que a moeda brasileira até conseguiu seguir o enfraquecimento global do dólar que prevaleceu até semana passada, mas os riscos fiscais e o ajuste a novos patamares de juros acabam jogando contra qualquer alívio.
Hoje, o dólar comercial fechou em alta de 0,46%, aos R$ 5,2607, depois de oscilar cerca de dez centavos entre a mínima do dia (R$ 5,1828) e máxima (R$ 5,2712). Desta vez, a direção é bem parecida com a observada contra o peso mexicano e rublo russo. Numa lista das principais divisas globais, os emergentes tiveram os piores desempenhos do dia, com o real no quarto lugar.
O que se observa nos últimos dias é que, a despeito de novos avanços das bolsas globais em um ambiente de abundância de liquidez, os investidores ainda preferem se ater à proteção do dólar. Além disso, alguns indicadores mais favoráveis dos EUA acabam atraindo recursos para lá. E o cenário fica um pouco mais desafiador por aqui devido às vulnerabilidades da economia brasileira, como os casos ainda elevados de contágio da covid-19 e os riscos de descontrole fiscal, dado os gastos extraordinários para combater a crise.
Sócio-fundador e gestor da Ibiuna Investimentos, Mário Torós avalia que o real tende a se beneficiar de movimentos de queda do dólar no mundo, como ocorreu nas últimas semanas. No entanto, ele acredita que, em termos relativos, a divisa brasileira deve seguir com o pior desempenho entre os pares. E isso ocorre por causa do risco fiscal. “O que estamos vendo é uma preocupação que se reflete no real, mas também na inclinação da curva de juros e no CDS É uma situação bastante difícil”, explicou, em live do BTG Pactual. Ele acrescenta que, enquanto se testa os limites da política monetária, a política fiscal “já testou todos os limites possíveis”. Assim, o risco de um erro é grande.
O principal evento na agenda local é o anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A grande maioria dos analistas trabalha com cenário de queda de 0,75 ponto percentual da Selic, de 3,00% para 2,25%. A principal questão gira em torno do comunicado que acompanha o anúncio. Há dúvidas se o Copom manterá a narrativa construída desde maio que apontava um fim do ciclo de afrouxamento agora em junho. Para analistas ouvidos pelo Valor, o colegiado pode até indicar uma pausa no processo, mas não deve cravar um fim definitivo. Ou seja, deve manter uma porta aberta para agir no futuro caso seja necessário.
Com a expectativa de uma inflação a 1,69% no fim de 2020, o grupo consultivo macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) estima que a Selic deve ser cortada hoje para 2,25% ao ano. Segundo o coordenador do grupo e economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, houve discussão relevante no grupo sobre espaço adicional para corte. Dos 25 economistas que compõem o grupo, seis acreditam que haverá novo corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto.
Mesmo com divergências sobre essa possibilidade, a leitura é que o Copom hoje pode indicar um período para observar o cenário, mas sem fechar as portas para novos movimentos dada a inflação muito baixa e o quadro de incertezas. Em relação aos limites mínimos para a taxa de juros brasileira, a economista-chefe do J.P. Morgan, Cassiana Fernandez disse que “o consenso, por enquanto, é que corte de juros mais ajuda do que atrapalha em relação à atividade e perseguição das metas”.