10 de maio de 2021
Alta das ações no Brasil e nos EUA e queda do dólar dão o tom entre os destaques de rentabilidade.
(Nota da redação: Os dados referentes aos piores fundos multimercado de abril foram alterados às 11h40 do dia 11/05/2021. O fundo Vokin Everest, que rendeu 0,82% no mês, havia sido incluído erroneamente na tabela, de acordo com dados da própria administradora.)
SÃO PAULO – O investidor brasileiro respirou um pouco mais aliviado em abril. Os índices acionários subiram no Brasil e nos Estados Unidos, com uma alta expressiva do real contra o dólar, em um contexto de avanço da vacinação no mundo e reabertura da economia nos países mais desenvolvidos, bem como de aprovação do Orçamento de 2021 no âmbito doméstico.
E, ao que tudo indica, a tendência deve prosseguir por mais algum tempo, diante dos estímulos fiscais em curso, principalmente nos Estados Unidos, que impulsionam a retomada da atividade global junto com a imunização, e com a percepção do mercado de redução do ruído político em Brasília.
Ao menos é dessa forma que estão posicionados os fundos de ações que mais têm conseguido se destacar positivamente nas últimas semanas, com um portfólio voltado aos investimentos de caráter mais cíclico, tanto em termos locais quanto internacionais.
Frente aos juros baixos e com um câmbio que anda bastante volátil, mesmo no caso dos multimercados, os melhores desempenhos têm sido monopolizados por fundos que atuam predominantemente no mercado acionário.
Enquanto as carteiras mais voltadas à dinâmica externa têm ganhado pela aposta em commodities, os gestores que se inclinam à atividade local se beneficiaram mais recentemente de empresas do setor de consumo, especialmente por conta da forte valorização das ações da Hering em abril, após o anúncio de fusão com o Grupo Soma.
Confira a seguir os fundos de ações e multimercados com as maiores altas e quedas em abril. Com base em dados extraídos da Economatica, o levantamento considerou veículos não exclusivos, com gestão ativa. patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas ao fim de abril.
Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos setoriais e monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.
Entre os destaques de abril, multimercados como o Versa Long Biased e o Logos Total Return surfaram o momento positivo para as ações da Hering, que avançaram nada menos que 70,4% no período.
No caso do Ibiuna Long Biased, o setor de consumo, por meio das ações de JBS, Hypera e Petz, também foi importante para o retorno no mês. Impulsionada pela retomada da atividade global, a aposta da Ibiuna em commodities via Braskem e Usiminas foi outra que favoreceu a rentabilidade no intervalo.
“Continuamos com um cenário relativamente positivo para a atividade econômica no Brasil, não só pela continuação da melhora (ainda que lenta) da situação sanitária, mas também pela redução dos ruídos políticos (especialmente relacionados ao orçamento doméstico)”, destacou a Ibiuna na carta de gestão de abril, que aponta ainda Bradesco, B3, Cesp e Assaí entre as posições no portfólio.
Na categoria de renda variável, o consumo contribuiu sobremaneira para o retorno do Hayp FIA, da Zenith Asset Management, representado pelos investimentos em Pão de Açúcar e Assaí, ao lado de nomes que estão fora do radar da maior parte do mercado, como Positivo e Technos.
No SulAmérica Selection, que busca papéis de menor capitalização na Bolsa, nomes de companhias vinculadas a commodities, como 3R Petroleum, Kepler Weber e Boa Safra, dividiram espaço com Eletromídia, Meliuz e Petz e sustentaram os ganhos recentes.
Fundos de destaque em 12 meses
Já no período acumulado dos últimos 12 meses encerrados em abril, fundos de ações como o Arbor Global Equities, que investe em BDRs das grandes empresas globais de tecnologia como Facebook, Microsoft, Amazon e Google, dividem espaço com o Hayp FIA e com o BB Ações Exportação, que, como o nome já deixa claro, investe nas grandes exportadoras listadas.
Confira a seguir os fundos de ações que mais se destacaram em um ano, assim como seu desempenho em 36 meses (no caso dos fundos com histórico para o intervalo), em 2021 e apenas no mês passado.
Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.
Entre os multimercados, além dos ganhos destacados do fundo de criptomoedas da Vitreo e dos veículos mais voltados à alocação na Bolsa brasileira do tipo long biased, fundos globais do Santander e do Safra conseguiram cravar seu espaço entre os destaques em 12 meses.
Receita estrangeira
No caso do BB Ações Exportação, Isaac Marcovistz, gerente executivo de produtos da BB DTVM, explica que, como linha de corte, só são consideradas para a carteira ações de empresas que tenham pelo menos 30% da receita em moeda estrangeira.
Em um ambiente global de reaquecimento da atividade que tem se desenhado bastante positivo para o setor de commodities, posições em CSN, CSN Mineração, Vale, Gerdau e São Martinho adicionaram contribuição relevante para o fundo ao longo dos últimos 12 meses e continuam entre as maiores convicções na carteira, diz Marcovistz, acrescentando que os frigoríficos JBS e Marfrig, bem como as empresas de papel e celulose Suzano e Klabin, também estão no portfólio.
Segundo o gerente da BB DTVM, o mês de abril, em que o dólar teve uma depreciação significativa frente ao real e quando o fundo rendeu quase 7%, serviu para comprovar a tese da casa de que o ritmo aquecido da economia global e a oferta limitada devem manter a demanda pelas commodities aquecida e compensar uma eventual recuperação da moeda brasileira.
Aposta no consumo
No Hayp FIA, Thiago Wolf, sócio e diretor de análise da Zenith Asset Management, aponta que as posições em Pão de Açúcar e Assaí, que mais contribuíram para o retorno em abril e nos últimos 12 meses, seguem como as maiores apostas na carteira do fundo.
“Quando a cisão entre as duas empresas ocorreu no início de março, aproveitamos para aumentar um pouco a participação no Pão de Açúcar, por entender que o mercado não estava precificando corretamente o valor da empresa”, diz Wolf.
Desde sua estreia no início de março, as ações da Assaí avançam quase 500%, em grande medida devido aos ganhos de 385% só no primeiro pregão na Bolsa. Na ocasião, as ações do Pão de Açúcar caíram 65,8%, o que contribui para a queda de 45% dos papéis, em 2021, e de 24,6%, em 12 meses.
O movimento ocorreu porque, até a cisão, as ações do Pão de Açúcar refletiam a soma de duas companhias. Após a operação, passou a refletir apenas o valor de uma, explica a equipe de análise da XP, em relatório.
O gestor da Zenith cita ainda as ações da fabricante de computadores Positivo entre as maiores fontes de retorno para o fundo mais recentemente. Apesar dos ganhos expressivos nos últimos meses, com alta de 120% de janeiro a abril, são ações em que o gestor segue com uma posição relevante, frente ao aumento esperado de receita em meio à popularização do trabalho remoto.
Com menor espaço dentro da carteira, as ações da Technos também têm gerado resultados positivos. O sócio da Zenith explica se tratar da maior fabricante de relógios da América Latina, que iniciou em meados de 2019 um processo de reestruturação operacional, que começou a dar seus frutos a partir do segundo semestre do ano passado.
Hering e companhia
Entre os multimercados, o gestor do Versa Long Biased, Luiz Alves, aponta na carta de gestão referente ao mês de abril que, até meados do mês passado, a piora da pandemia no Brasil fazia do varejo o “patinho feio” da Bolsa.
“De repente, os ventos começaram a mudar. Assim como nós, os grandes participantes do setor enxergaram nos modestos valuations das empresas uma oportunidade de fazer negócio”, diz o gestor, na carta.
Ele lembra que, após recusar uma investida da Arezzo, a Hering aceitou em 26 de abril uma proposta mais generosa do Grupo Soma, que avaliou o negócio em cerca de R$ 5 bilhões. Como consequência, as ações da empresa subiram 70,4% em abril, e influenciaram o desempenho dos pares no setor – os papéis da Guararapes, também no portfólio do multimercado, avançaram 22,4% no período.
“Seguimos investidos na tese da reabertura. Acreditamos que a atividade econômica brasileira, amparada pelo crescimento externo e o avanço vindouro da vacinação da população, continuará surpreendendo positivamente as expectativas de mercado”, diz a Versa.
No caso do Logos Total Return, as ações da Hering também tiveram contribuição relevante para o resultado positivo do fundo em abril, diz Ricardo Vieira, CEO da Logos.
Ele afirma ainda que uma posição que o fundo carrega há algum tempo na Eletrobras embalou os ganhos recentes, com notícias positivas relacionadas ao processo de privatização da estatal.
A exposição indireta por meio da Bradespar ao crescimento de receita da Vale frente à demanda que segue aquecida pelo minério de ferro, bem como ao setor de logística por meio dos papéis da Sequoia, também estão entre as apostas no portfólio do multimercado.
O CEO da Logos aponta ainda a Totvs como uma ação que voltou a fazer parte da carteira do fundo mais recentemente. Ele explica que foi uma das posições de maior contribuição para os ganhos do fundo em 2019, mas que não esteve entre as investidas ao longo de 2020.
Títulos de Buenos Aires
No multimercado Exploritas Alpha América Latina, os ganhos de 7,7% em abril, e de 26,5% em 12 meses, partiram de um portfólio diversificado voltado para a retomada da atividade local e global, tendo se beneficiado nas últimas semanas da posição comprada no real, e de apostas em papéis de commodities como Vale, SLC Agrícola e Brasil Agro, diz o gestor Daniel Delabio.
Com o resultado recente, o fundo começa a se recuperar das perdas de 27,1% sofridas em 2020, influenciadas por títulos em “bonds” argentinos no portfólio, que já vinham sob intensa volatilidade mesmo antes do coronavírus, e que acentuaram suas perdas com a eclosão da pandemia.
O fundo segue com posições em dívidas das províncias argentinas de Buenos Aires e Córdoba, além de papéis soberanos do país vizinho, todos denominados em dólar, que contribuíram para o retorno positivo do mês passado.
“Os bonds argentinos precificam um cenário tão negativo que qualquer melhora, como a que teve mais recentemente por conta das discussões em torno da negociação da dívida Argentina, traz uma contribuição positiva”, diz Delabio.